BIOGRAFIA
Nasci de um abismo
e nele me equilibro.
Tudo desmedido.
Tudo voraz.
Tudo a boca de uma grande loba
[estrela em pêlo de caranguejeira].
Tudo essa teia
de saliva e luz negra.
Tudo esse uivo de danceteria
viaturas
bairros sujos.
Tudo um delay de mim
multiplicado por mim.
Tudo esse tiro
[um ou dois estampidos?]
esse giro
essa queda
esse fim.
O LEÃO
Flor carnívora
ele aquece a paisagem:
sol sobre cinzas
sal
sugem.
Apenas uma carícia
cabe no seu nome,
faro aceso
a contrapelo,
e uma mulher de luz
chupa-lhe o mastro.
Simétrico e circular,
o seu rugido
fere tulipas,
pequenos coleópteros,
enche copos, cálices, calas.
Ácido e doce
amamenta todas as suas fêmeas.
Depois dorme,
cidade inexistente.
(Leiam mais poemas da Micheliny na edição de agosto da Zunái.)
Ótimos!
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