MARROCOS OU ALÉM
W. L. sempre chegava à noite, depois de ter matado baratas
ele precisava escrever o acúmulo sombrio dos devaneios
noturnos, os vazios desproporcionais entre a realidade e o
fora
sua mulher o beijava e o pó resplandecia na boca, ela
desabotoava a blusa, o hálito entrelaçado aos odores da rua
era preciso matá-la
e o médico, um certo doutor B., abria portas janelas
corredores oblíquos onde se morre aos poucos com o veneno
agudo das lacraias
talvez ele devesse partir para Tanger, estremecer os ossos nos
ruídos distantes em meio aos ávidos olhos mouriscos
ou permanecer de pé enquanto o mal se misturava ao sangue
as palavras infestavam seus ouvidos, ele já estava tão distante
a trama do mundo se esgarçava, alguém havia puxado um fio
em alguma parte do universo
ele procurava sua clark nova
e sabia
sabia que o assassinato era uma alucinação na rotina, um
espasmo entre as fibras da memória, uma contração nos
molares
era preciso escrever ou permanecer para sempre em interzona
Ontem mesmo li alguns "poemas-conto" da Izabela na Germina. Gostei demais. Quero conhecer mais do trabalho dela.
ResponderExcluirparabéns, Izabela & Claudio
Izabela escreve coisas belíssimas e, melhor, únicas.
ResponderExcluirBeijos, CD!