qual seria canção
nas tardes da alma
vão caindo equinócios
talvez fria sinfonia penetra na brasa
descalçando metáforas na foz
inclinada à noite
qual seria canção
o cílio dos planaltos
a pedra crua pele de espaços
aberta ao escopro
pele de insetos o diálogo dos ossos
em floração o que fazer agora
sem transparência
casco de dinastias
os textos aqui desembocam nos pilares
e nós
tentando exaustos agarrar o sol
asfixiado
rio no céu da palavra
produz-se o efeito da impressão, repetição, associação
ônus vermelho e púrpura
asuen aryan, a valsa
tatuada: esferas semânticas apenas
lentos idiomas,
trocados espaços o tempo das coisas
o mundo todo nesta cidade
assim na poltrona a sentinela outro texto
impaciente molda a função
vertical o espelho, colchões na estrutura
pétalas, gaivotas, mútua tipóia
ninho molhada alvorada
no pé da cidade
aritmética esta idade cadáveres de luz
enchem à janela vive o pastor na hipotenusa epílogo
de chuvas, capim e passos férteis entregues ao pasto
húmidas dunas semelhantes às flores acolhem artérias
as máscaras enraizadas no sangue, sem travessia
penetram na cartilagem do silêncio sílabas iluminadas
cristalizam o pé da cidade como se fosse de homem
as portas de um produto imenso os teus desejos
minta a paz, a paz que minto, nesta mesma paz
já dizia o mestre, que resta ainda o peito, neste simples produto
as portas imensas criações opacas esses cantos esperas
deixadas nas componentes da luz ausentam-se incontáveis frutos
caminhos que constroem minha íris ao povoar gargantas
que chegam na noite de teus desejos acesas bocas calados gritos
minta a paz, a paz que minto, nesta mesma paz
já dizia o mestre que resta ainda o peito neste, simples produto
a paz um produto imenso os teus desejos
(Poemas do livro O vento fede de luz. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2007)
nas tardes da alma
ResponderExcluirvão caindo equinócios...
... qual seria a canção
Gostei imensamente dos poemas de Paxe, Claudio. Uma beleza.
Prezado poeta Claudio Daniel, é sempre bom ver/ler seu esforço em divulgar grandes nomes da poesia contemporânea. É sempre um aprendizado ler seu blog e a revista Zunái. Um forte abraço.
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